Uma coisa que devo começar a cuidar quando sugiro, indico ou coloco vinhos em degustação: o meu gosto não necessariamente corresponde ao gosto dos demais.
Isso tem a ver com a sensibilidade do paladar de qualquer um (e a respeito, o amigo e colega bloguerio Ulf Karlholm colocou este belo post no seu blog BioVinho - by the way, segundo o teste eu sou “sensitive”), mas tem a ver também com os vinhos que se costumam tomar. Por exemplo, eu, que cresci (e continuo) tomando basicamente vinhos do velho mundo tenho uma percepção e conseqüente avaliação diferente de quem costuma beber, digamos, malbecs argentinos e cabernets chilenos. Veja bem, não estou entrando no mérito da discussão vinho bom/ruim, mas de estilos de vinho. Aqui não vou afirmar que vinho italiano é melhor que vinho argentino (mesmo sendo, hehehe), mas que percebo que muitas pessoas que não estão acostumadas ao estilo velhomundista acabam não gostando de vinhos que, a meu ver, seriam bem interessantes.
Veja o exemplo seguinte:
Recentemente, compartilhando uma mesa mista de amigos e conhecidos apreciadores de vinho, tomamos um rótulo que eu sugeri pela sua relação preço/qualidade e por agradar sempre: o Villa Antinori. O produtor dispensa qualquer apresentação, um dos maiores nomes do mundo e podemos dizer que seja o inventor dos Supertoscanos. Este supertoscaninho (um corte de Sangiovese, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah com estágio de 12 meses em carvalho, mais 8 meses em garrafa) conserva a qualidade da casa, mas a um preço bem mais acessivel e nunca desaponta. Pois bem, ele desapontou alguns dos presentes, especificamente os que não costumam beber vinhos do velho mundo.
O Villa Antinori não tem aquele aroma tipo batom, nem a doçura, nem fruta em abundancia, tampouco a madeira evidente, típicas dos novomundistas. Já tem toque mineral e terroso, nuances de café, de tostado e de tabaco, com taninos finos e madeira não agressiva: todas coisas que eu aprecio particularmente em um vinho.
Enfim, não é um dos meus favoritos em absoluto, mas pra mim uma boa compra (ainda naquele dia estava em promoção de R$89 por R$75). Mas, como disse, as opiniões foram divergentes: uns amigos não gostaram, já outros (os mais acostumados a este estilo) não só aprovaram a escolha, como levaram até umas garrafas pra casa.
Vou remarcar mais uma vez: ninguém de nós estava certo ou errado, é questão subjetiva de paladar.
Mas só pela estatística: você, já provou este rótulo? Qual a sua opinião?
Voto gringo: 7
Vinho: Villa Antinori
Safra: 2006
Produtor: Marchesi Antinori
País: Itália
Região: Toscana
Uvas: 55% Sangiovese, 25% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot e 5% Syrah
Teor Alcoólico: 13,5%
Importadora: Wine Brands
Custo médio: R$ 89,00
Li seu post e me projetei para uma situação que passei na sexta-feira, pois numa mesa com amigos uma boa parte preferiu um MALBEC argentino (simples, por sinal) a um Châteauneuf-du-Pape ( simples, mas honesto = pequeno produtor e sem a influência de Parker na França). Não que o vinho francês tenha que ser melhor, mas pude notar que a opção da maioria que gostou mais do Malbec estava na segurança de sentir um paladar conhecido, com força da madeira e fruta madura (já vulgares na boca e mente). Fiz um paralelo da minha situação - que cabe na sua - com passagem do filme MONDOVINO e escrevi um post (http://rodrigomazzei1.wordpress.com/2011/06/11/mondovino-um-documentario-para-assistir-rever-e-refletir-parte-i/)
ResponderExcluirAcho que o Villa Antinori (vinho que vc bebeu) é um exemplo perfeito de tradição com evolução. Voto contigo! abraços (e parabéns pelo blog), Rodrigo
Esta questão de bom ou ruim, para mim, é algo que já superei. Tem vinho estragado ou não. De resto é prazer. O bom vinho é aquele que te traz prazer, lembranças e convivência.
ResponderExcluirConcordo em relação aos estilos. Penso que iniciei, como quase todos, nos estilos andinos tipo tinto retinto e cheio de aromas, se bem que tenho notado que eles estão se modificando. Já tenho uma boa lista daqueles que outrora foram pesados e agora estão mais calmos.
Migrei para o velho mundo porque aprecio um bom vinho com culinária, aí, aqueles feitos com menos álcool e mais elegância, até mesmo com uma boa dose de acidez ou rusticidade, como este Antinori, são imbatíveis.
Este, em especial, é fantástico, além da descrição feito no post tem aquela rusticidade tânica da Sangiovese que gosto bastante.
Por fim, já disse e repito, "Toda a unanimidade é burra", segundo Nelson Rodrigues.
Um abraço Peter www.alemdovinho.wordpress.com
Mario, já provei, e concordo com sua avaliação - é uma boa relação custo x benefício.
ResponderExcluirMas desconfio que eu sou suspeito - embora eu seja eclético e tenha um gosto bastante variado (bebo de tudo !), meu gosto pessoal tende sempre - e cada vez mais ! - para a minha querida sangiovese ...
No mais, concordo com você, é claro - não há certo nem errado nessa discussão. Há vinhos bem-feitos e mal-feitos, há gostos e estilos pessoais. há hábitos e culturas particulares. Aliás, eu acho que um dos grandes prazeres do mundo do vinho é exatamente a sua inapreensível diversidade : sempre há um vinho novo a provar, sempre há uma sugestão de um amigo a ser testada. Isso é estimulante !
Abraços
Oi Mario,
ResponderExcluirLembro beber Villa Antinori na Suécia, muito bom!
Um abraço
Ulf
Rodrigo, obrigado por visitar e comentar (e pelos elogios!). Já vou ler a sua matéria.
ResponderExcluirUm abraço!
P.S. o nome do meu blog é claramente inspirado ao filme do Nossiter que você citou...
Peter, obrigado mais uma vez pela sua valiosa opinião.
ResponderExcluirConcordo com você, eu também tenho notado umas mudança nos vinhos argentinos e chilenos, com vários vinhos mais elegantes que potentes.
Mas, velho mundo, como vc disse, é parceiro perfeito para uma boa comida.
Grande abraço!
Caro Nivaldo, concordo em gênero, número e grau. E ademais, fico feliz que seja fã da sangiovese! Olha, voltando ao assunto do post, recentemente uns meus amigos foram para Itália e não gostaram dos Chiantis que degustaram ali. Não se lembravam dos rótulos, e é possível que não fossem dos melhores, mas é mais possível que não tivessem familiaridade com o este estilo mais gastronômico...
ResponderExcluirGrande abraço, meu amigo!
Ulf, se você aprovou então Bingo! ;-) Não é preciso dizer mais nada...
ResponderExcluirObrigado pela sua contribuição.
Grande abraço!
Mário,
ResponderExcluirRecentemente eu comprei o Marchese Antinori Chianti Classico Riserva, da safra de 2006 (na importadora, a Wine Brands, ele é 25 reais mais caro que o Villa Antinori). Você já chegou a experimentá-lo? Se já, que nota você daria, aproximadamente? Acha que ele já está em um bom momento de consumo, ou vale a pena guarda-lo por mais tempo?
Rubão, provei este Chianti Classico, mas de safras anteriores. De qualquer forma a de 2006 foi uma ótima safra na Toscana e, embora capaz de envelhecer bem por vários anos ainda, eu o abriria sim (talvez deixando arejar um pouco antes de beber).
ExcluirObrigado pela visita, um abraço!
Valeu, Mario!
ExcluirAbraço
Moro na Holanda e tenho comprado o Villa Antinori 2008 por 13 euros a garrafa, bem diferente dos valores praticados no Brasil. No último ano devo ter comprado umas três caixas dele. Ele recebeu 90 pontos do Robert Parker e para mim é hoje o melhor custo-benefício do mercado.
ResponderExcluirTambém tenho preferência pelo velho mundo, porém não ignoro a potência tops chilenos e argentinos. Até porque quando falamos do topo da cadeia dos cortes bordolêses (existe esse termo?) a qualidade começa a ficar similar.
E se os 'novomundistas' pudessem repetir a degustação da Carta de Berlim? Acho que mudariam suas opiniões. Achei uma matéria (http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/24/artigo64420-1.asp) que comenta a repetição da desgustação no Brasil. Vejam os resultados:
'Este modelo de degustação foi repetido em São Paulo, em novembro de 2005, com 40 degustadores de renome nacional, também sob a coordenação de Steven Spurrier e Eduardo Chadwick, chegando à seguinte classificação:'
1) Margaux – Bordeaux – França (R$ 1.200,00)
2) Château Latour 2001 – Pauillac – Bordeaux – França (R$ 2.000,00)
3) Viñedo Chadwick 2000 – Chile (R$ 430,00)
4) Guado ao Tasso Bolgheri DOC Superiore 2000 – Toscana – Itália (R$ 400,00)
5) Seña 2001 – Chile (R$ 350,00)
6) Seña 2000 – Chile (R$ 330,00)
7) Don Maximiano 2001 – Chile (R$ 250,00)
8) Viñedo Chadwick 2001 – Chile (R$ 450,00)
9) Château Lafite-Rothschild 2000 – Pauillac – Bordeaux – França (R$ 2.900,00)
10) Sassicaia Bolgheri DOC 2000 – Toscana – Itália (R$ 680,00)
Já experimentei metade dos rótulos citados acima. Sem dúvida é uma pós-graduação em vinhos.
Ah, e meu vinho preferido atualmente é o supertoscaníssimo Guado ao Tasso (85 euros por aqui).
Abs!
Helio,
ExcluirMuito obrigado pelo seu pertinente e competente comentário. É isso ai mesmo: os chilenos são mais prontos, mas tem menos longevidade; basicamente com 2-3 anos de vida um grande chileno já é muito bom, enquanto um grande bordeaux está uma criança; já depois de 15 anos o bordeaux vai começar entrar no auge enquanto o chileno já decaiu...
De qualquer forma eu também não desprezo os vinhos do Novo Mundo, embora eu prefira os do Velho: como digo sempre, cada vinho tem seu momento (e cada momento tem seu vinho).
Obrigado pela visita, grande abraço!