Como sabemos, o conteúdo de uma garrafa apenas aberta não necessariamente pode estar como queríamos, ou pior, pode estar estragado. E nunca falta o sommelier da vida que quer te convencer que você está enganado. Então, nestas horas, você sabe como reconhecer os defeitos? Don’t worry, o MondoVinho vem aí com mais um guia prático de sobrevivência, que vai te ajudar nos momentos duvidosos.
1) Alvenaria
Tipo: a cor do seu Malbec 2010 vai de tijolo de barro para quadra de tênis do Roland Garros.
Os tons naturais de cor de um tinto são: vermelho rubi/púrpura/alaranjado/granada. Já as nuances de um branco podem ser amarelo esverdeado/palha/dourado/âmbar. Quando ambos os tipos (tinto e branco) ficam em contato com o oxigênio, perdem parte do brilho e pegam uma cor tendente ao marrom. Isso é normal para vinhos de longa maturação, mas em garrafas e safras recentes é o primeiro sinal que o seu vinho está oxidado.
2) Borbulhas
Tipo: o seu Sauvignon Blanc tem uma perlage na taça que nem Champagne.
As leveduras não têm desenvolvido bem as próprias tarefas. Partículas de açúcar andam soltas pela garrafa. Com a chegada do primeiro calor, as leveduras voltam à ação e uma nova fermentação não desejada começou implacavelmente.
3) Au-au!!!
Tipo: no restaurante pede um Barolo e vem com o cheiro do seu cachorrinho molhado.
Mesmo se o seu vinho for um Conterno 1990 não necessariamente os aromas terciários devem ter licença para matar. Se o cheiro do seu Totó domina na taça, isso tem uma explicação plausível: o TCA tem tomado posse de seu vinho. A sigla significa
Tricloroanisol, substância química que é a maior responsável pelo cheiro de mofo, melhor conhecido como
bouchonée (
já passei por isso...)
No caso o sommelier acima citado tentará fazer você mudar de opinião “é o típico aroma de papelão molhado”. Claro: uma garrafa desta tem que ser vendida a qualquer custo!
4) Muuuuu
Tipo: o seu Syrah cheira a band-aid, ou pior, a celeiro.
A levedura
Brettanomyces, em pequenas doses pode até ser índice de tipicidade e tem seus apreciadores, mas se você sentir no nariz uma verdadeira transumância de gados, então não está perante de um bom vinho que mostra o próprio terroir, mas na frente de uma bela contaminação de Brett.
5) Salão de beleza
Tipo: o seu Chianti tem cheiro de esmalte para unhas, ou pior, de vinagre.
A evolução natural do vinho é de se tornar (antes ou depois) vinagre. Sinal que as bactérias do ácido acético estão trabalhando causando a chamada de acidez volátil (ou VA). Como pelo Brett, a VA pode ser indicador de boa qualidade, mas em excesso é um defeito. Se o seu vinho estiver deste jeito, use-o como condimento. A sua salada agradece.
6) Cobaia
Tipo: pede um Cabernet Sauvignon e se lembra do laboratório onde a sua parceira bióloga te leva de vez em quando.
Os ingleses o chamam de "mousey", eu o chamo fedor de rato. Mais uma vez os responsáveis são as bactérias. Mesmo assim, também tem uma delegação de adeptos, mas este “aroma” pra mim é bastante desagradável, o suficiente para me fazer feliz tomando água fresca.
7) Dentro do vulcão
Tipo: pede um Pinot Noir e encontra sob o nariz um repolho cozido.
Defeito causado pela indesejada formação de compostos sulfurosos (enxofre). Outro cheiro comum é de borracha queimada.
8) Não preciso de Tylenol
Tipo: pede um Gewurztraminer e te trazem uma água natural sem gás.
Se não estiver sentindo nenhum aroma não é necessariamente porque esteja gripado. O vinho pode ter sido servido a uma temperatura muito baixa, ou talvez precise de um pouco de oxigenação. Tente esquentar a taça com as palmas das mãos e rode-a novamente. Se nada acontecer é até provável que o vinho tenha um baixo nível de bouchonée, ou seja: o TCA já cancelou os bons aromas do vinho, mas ainda não chegou a desenvolver os cheiros desagradáveis acima citados.