Vinopoly

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Bomba! Barolo diz adeus à rolha de cortiça e introduz uma nova vedação!


Rolha de cortiça é um clássico, considerado como insubstituível em regiões tradicionais e para vinhos de guarda. Barolo representa fortemente ambos os casos, mas acontece que uma vinícola de lá acaba de lançar uma grande novidade que representa uma verdadeira revolução no mundo do vinho, destinada a criar discussões e polemicas: o primeiro Barolo engarrafado sem rolha de cortiça.!

A vinícola Brandini que há 20 anos produz o ‘’rei dos vinhos/vinhos dos reis’’ decidiu vedar as suas garrafas de Barolo DOCG 2011 (safra comercializada a partir deste ano, depois dos 38 meses de envelhecimento previstos pela lei) com outro tipo de rolha: a Select Bio. 

Produzida por uma das mais importantes empresas do setor (a Nomacorc) é uma rolha também revolucionária: não é em silicone, nem de rosca (screw-cap), e sim utiliza uma matéria prima derivada de cana de açúcar. O produto, diferentemente das rolhas sintéticas, permite uma lenta passagem do oxigênio (portanto uma longa evolução), eliminando assim o problema que foi sempre considerado como principal na utilização de rolhas alternativas. Justamente por isso a legislação não permitia até 2014 o uso de rolhas não de cortiça para os vinhos das D.O.C.G. italianas.

Os motivos para que as rolhas de cortiça se tornaram um problema para os produtores são basicamente 2 (excluindo os de caráter sustentável/ecológico).
O primeiro é o custo: como no mundo se produz a cada vez mais vinho de qualidade, aumentou muito a demanda para este tipo de vedação, reduzindo portando a oferta, visto que a matéria prima é limitada.
O segundo é o famoso fenômeno conhecido como bouchonné, doença da rolha que acontece quando ela é atacada por fungos (e bactérias) que acabam contaminando e prejudicando aromas e sabor do conteúdo da garrafa. Não é um fenômeno muito comum, acontece em cerca de 5% das garrafas produzidas no mundo, mas de qualquer forma faz a diferença tanto para quem produz grandes quantidades de vinho econômico, tanto para quem faz pequena produção de vinho caro (e evidentemente para todos os que estão no meio).

Desta forma a Agricola Brandini afirma ter achado o justo equilíbrio entre tradição e inovação, ainda diminuindo os custos e salvaguardando o meio-ambiente. Será que este novo tipo de rolha vai se afirmar como padrão mundial? 

As rolhas Select Bio da Nomacorc

12 comentários:

  1. Respostas
    1. Pois é Alvaro,
      Os players do mercado do vinho, mas sobretudo seu consumidores têm que entender que, embora seja um mundo muito ligado á tradição, as tendências e exigências mudam, e, querendo ou não, é preciso se adaptar.
      Obrigado pela leitura!

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    2. A produção de cortiça está no limite . No Alentejo estão a plantar muitos sobreiros que demoram 20 a 25 anos a produzir .Para além disso a cortiça demora 7 anos a crescer È portanto um processo lento e o aumento do processo de produção de rolhas é inferior á demanda e quando assim a escassez comanda o preço

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  2. Olá,
    Primeiramente, parabéns pelo blog. Achei muito legal. Será que fizeram testes de longa duração com esta rolha? Tenho uma dúvida de principiante. É bactéria ou fungo que causa o bouchonné?
    []s
    Daniel

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    1. Olá Daniel,
      Obrigado pelos elogios.
      As suas perguntas são muito pertinentes.
      Pelo que sei a rolha foi amplamente testada, mas obviamente não ao longo de décadas, portanto para o teste final da guarda de vinhos como Barolo nos resta apenas que esperar (e rezar ehehe).
      Quanto á causa do bouchonné eu não quis entrar muito em mérito da questão técnica, para não fugir do foco do assunto. De fato o fenômeno é causado pelo TCA (tricloroanisol), substância responsável para aquele característico cheiro de mofo (papelão molhado, cachorro suado, etc). Ele é produzido principalmente como metabolismo secundário do fungo armillaria mellea, que ataca o sobreiro, mas também de bactérias (das famílias bacillus, rhodococcus e streptomyces) que atacam compostos da cortiça como ácidos, cera e taninos.
      De qualquer forma fiz uma pequena correção ao texto (faltou um ''e'') para não gerar confusão.
      Obrigado pela leitura e pelo seu comentário!
      Abraço

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  3. Penso que na produção da rolha os fungos da cortiça ,e , dada as temperaturas a que se trabalha são eliminados . Na produção do aglomerado negro de cortiça verificamos que existem variadas resinas que com a temperatura são naturalmente utilizadas na sua produção como adesivo e selante. Em teoria estas resinas podem ser as causadoras do cheiro a cortiça , o bouchon dos franceses mas nós em Portugal é que somos praticamente monopolista no aproveitamento da cortiça não só em Portugal como no Magrebe .

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    1. Muito obrigado pela sua preciosa contribuição, Segredosdebaco!

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  4. A unica constante é a mudança.
    Uma boa matéria.
    Vc pode autorizar que a poste em minha página no facebook?
    https://www.facebook.com/armazemconceicaosc

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    1. É isso aí Nilson.
      Obrigado pela leitura e pelo seu gentil comentário. Claro, pode postar! Valeu

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  5. Olá, só não ficou muito claro para mim se o problema das rolhas sintéticas é a falta de oxigenação ou o excesso. Até onde sei, é o excesso.

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    1. Olá Luciano,
      O ''problema'' das rolhas sintéticas é justamente o fato delas vedarem completamente a garrafa, impedindo a entrada de oxigênio. Já a rolha de cortiça com seus micro-furos naturais permite uma lenta oxigenação, que é fundamental para vinhos de guarda (como Barolo).
      Coloquei a palavra ''problema'' entre aspas pois vale lembrar que os vinhos prontos para consumo representam mais de 90% dos rótulos presentes nas prateleiras do mundo, para os quais poderiam ser usadas tranquilamente as rolhas sintéticas. O verdadeiro ''problema'' delas é a aceitação do consumidor tradicional que ainda tem certo preconceito: ele associa rolha sintética a vinho de baixa qualidade e sobretudo rejeita a screw-cap (rolha de rosca) por não ter todo o ritual da abertura da garrafa com saca-rolha.
      Enfim, temos que aceitar que o mundo muda..
      Obrigado pela leitura e pela sua pergunta.

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