O clima é sempre determinante para a produção de boas uvas,
mas hoje graças a tecnologias e intuito do homem é possível
plantar vinhedos de qualidade praticamente em qualquer lugar do mundo, a
qualquer latitude, longitude e altitude (desde áreas áridas e desérticas até
temperaturas gélidas e polares).
Em breve teremos também os primeiros vinhos finos do Rio de
Janeiro (acredite), portanto não deve surpreender que o estado de Minas Gerais
já esteja entregando alguns rótulos de boa qualidade. Em 2011 provei o primeiro
vinho lançado por lá, o famoso Primeira
Estrada Syrah 2010, produzido em Três Corações, que abriu o caminho para
vitivinicultura no sudeste do Brasil.
O enólogo mineiro Murillo de Albuquerque Regina, com PhD em Bordeaux, estava
frustrado com o clima da sua terra, que no verão (tradicional época da
colheita) é quente, úmido e chuvoso, com todas as conseqüências que isso
comporta, como podridão das uvas, doenças várias, insetos, etc. Mas em certo
momento teve uma idéia genial, partindo do seguinte conceito: nas
melhores regiões vinícolas do mundo, o clima no período que antecede a colheita
é caracterizado por dias ensolarados e noites frias, acompanhados de solo seco.
Ele se deu conta que isto é exatamente o que acontece na sua terra no período
do inverno, por isso entendeu que se quisesse obter uma boa uva ele teria de
inverter o ciclo das plantas. É isso aí: poda no verão e colheita no inverno.
Com esta sacada ele realmente conseguiu produzir algo
significante (o citado Primeira Estrada) e com espírito agregador foi
convidando outros ‘’malucos’’ que quisessem apostar no projeto junto com ele.
O empresário Luiz Porto, com grande visão foi um dos primeiros
a acreditar no potencial do vinho mineiro e em 2004 investiu pesado no projeto,
convertendo plantações de café e uva de mesa em vinhedos de vitis vinífera, com
clones importados da França e construindo uma estrutura moderna e tecnológica.
Nascia assim, em Cordislândia, a 800mt de altitude, a Luiz Porto Vinhos Finos, sendo hoje a maior vinícola da região.
Recentemente tive o prazer de degustar seus vinhos num
encontro promovido pela Salumeria Delicatessen
(em Copacabana) onde um petit comitê de profissionais foi convidado a se juntar
ao Luiz Porto Junior, filho do fundador da vinícola, hoje no comando dos
negócios, que com muita paixão e simpatia nos conduziu através de uma prova
técnica, porém descontraída de 7 rótulos da casa:
- Luiz Porto
Espumante Brut: corte de Chardonnay e Pinot Noir em igual proporção, é produzido
com método champenoise, ficando por 12 meses ‘’sur lie’’. Perlage fina e
persistente, mineral, com destaque para excelente acidez e final cremoso.
- Dom de Minas
Sauvignon Blanc 2012: varietal sem passagem em madeira. Leve, porém bem
interessante; diferente de muitos SB de Novo Mundo com frequente excesso
de notas vegetais e herbáceas, ele mantém essas características bem discretas, deixando
ao invés sobressair sua mineralidade, junto a grande frescor.
- Luiz Porto
Chardonnay 2012: pertencente á linha premium, matura por 1 ano em carvalho
francês. Dourado na cor, tem aroma de café bem destacado e cativante, seguido de baunilha, defumado
e tudo que a barrica traz. Bom corpo e complexidade, com notas levemente adocicadas.
Para meu gosto velhomundista talvez faltasse um pouco de acidez, mas de qualquer
forma recomendo por ser um vinho diferente e bastante interessante (inclusive parece
ser o bestseller da casa).
- Dom de Minas Syrah 2013:
Provavelmente o meu preferido do painel. É um syrah leve (com breve passagem em
madeira), porém complexo, perfumado e de grande equilíbrio. Violetas, cassis,
cereja, açúcar queimado e especiarias no nariz, sensações repetidas na boca
limpa, de boa profundez e muita harmonia entre acidez, álcool, madeira e
taninos maduros.
- Dom de Minas
Cabernet Franc 2013: estagia por 12 meses em barricas francesas. Nariz de
amora, alcaçuz, amêndoas tostadas, canela e um toque terroso. Na boca tem um
belo corpo e acidez gastronômica, com a madeira em evidência, taninos vivos (talvez
ainda um pouco duros, que se beneficiariam de uma boa comida para acompanhar) e
bela persistência. Vai melhorar com algum tempo de descanso em garrafa.
- Don de Minas Merlot
2012: mais parecido com o syrah por sua leveza e frescor (também o estágio
em madeira é rápido) é um merlot moderno e aveludado, com notas de ameixa, morango,
coco, baunilha, tabaco e terra molhada. Harmônico e sedoso.
- Luiz Porto Cabernet
Sauvignon 2012: o tinto ícone da vinícola traz consigo uma contradição,
pois por admissão do mesmo Junior, a CS trouxe resultados aquém do esperado e
não vai ser mais produzida, focando para as próximas safras nas castas acima
citadas. Mesmo assim não tenho como falar mal do vinho, que mostrou potência, concentração
e complexidade, talvez com fruta não muito expressiva, mas de qualquer forma é
um vinho mais que correto e agradável de modo geral. Ficarei na expectativa do
próximo ícone da casa.
Finalizando certamente a vinícola está de parabéns, sobretudo
considerando a inovadora técnica de inversão do ciclo das vinhas, e mais ainda levando em
conta que a empresa é muito jovem, sendo a maioria dos vinhos provados da primeira
safra comercializada (a de 2012): com este começo promissor a Luiz Porto Vinhos
Finos só pode melhorar e melhorar ano após ano.